Em finais dos anos 1970, a Editora Brasiliense estava em situação quase falimentar. Fundada em 1943 pelo intelectual Caio Prado Júnior e pelos empresários Arthur Neves e Leandro Dupré como polo de oposição ao Estado Novo de Getúlio Vargas, a editora ganhou muito prestígio ao editar as obras completas de Monteiro Lobato – que se associaria à editora em 1944 – e assim se manteve até o Golpe de 64, quando o governo militar recém-empossado passou a perseguir todos aqueles que tivessem discursos com tonalidades avermelhadas. Caio Prado Júnior e seu filho Caio Graco Prado ficaram uma semana presos em 1964, com base na Lei de Segurança Nacional. A partir daí, a editora começou a claudicar de vez e a cassação de Caio Prado Júnior, em 1969, não ajudou em nada na tentativa de reverter esse quadro. Quando Caio Graco Prado assumiu a Brasiliense em 1975, a situação parecia irreversível. Então, em 1979, ele teve um insight: por que não deixar de lado os livros massudos que a Brasiliense publicava e investir em um novo público, aqueles jovens universitários que começavam a respirar um pouco mais de liberdade depois do “verão da anistia”? Com esta visão e muita disposição para virar o jogo, criando coleções inéditas no mercado até então, Caio Graco Prado transformou a Editora Brasiliense em um ícone editorial dos anos 1980.
É justamente esta trajetória que é contada a partir de 13 textos curtos – escritos por professores e pesquisadores do mercado editorial – no livro Caio Graco Prado e a Editora Brasiliense (Publicações BBM), organizado pela professora Sandra Reimão, da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, e pela pesquisadora Gisela Creni. São testemunhos de como Caio, em pouquíssimo tempo, transformou uma editora pré-falimentar na maior produtora cultural da década de 1980, investindo em textos e formatos diferenciados e em novos autores, tendo sempre o público jovem como alvo. “[Caio Graco Prado] Foi o último dos editores da linhagem de José Olympio, Jorge Zahar, Alfredo Machado, Ênio Silveira e Jacó Guinsburg. Estes são editores históricos porque colocaram suas utopias políticas acima do projeto editorial. Ao mesmo tempo, como editor, Caio fica como uma lição de modernidade”, afirmou o editor Pedro Paulo de Senna Madureira, citado no livro. Nada mais correto.